"Walter Benjamin: Melancolia é Revolução", de Maria João Cantinho, editado pela Editora Exclamação, recebeu ontem (25/10) o Prémio PEN - Ensaio de 2020. A Pandemia não permitiu que a cerimónia de entrega acontecesse ano passado e juntou-se à de 2021 na Fundação Gulbenkian em Lisboa.
"As ideias iniciais que constituem o fermento messiânico do pensamento benjaminiano conhecem um inopinado desenvolvimento com contacto com as suas leituras do materialismo dialéctico. Se, a partir de 1924, a sua leitura de Luckàcs o impressiona particularmente, é pelo facto de Benjamin descobrir na “luta de classes” do materialismo dialéctico um tema de eleição e que exprime uma imagem de revolução. A luta de classes e, consequentemente, a imagem de Marx, da sociedade sem classes, converte-se, ela própria, na imagem da revolução/redenção messiânica, na sua obra Sobre o Conceito de História. Todavia, e isso é que é um facto marcante, o materialismo histórico vem entrosar-se nas suas concepções mais antigas, transformando-se no conceito operatório mais poderoso para levar a cabo a sua crítica à visão do historicismo e á ideia da história vista como progresso. Porém, contrariamente ao marxismo evolucionista vulgar, Benjamin não concebe a revolução como um resultado «inevitável» do progresso económico e técnico nem sequer como o resultado da contradição entre as forças e as relações de produção. Para ele, a revolução acontece como uma interrupção da evolução histórica conduzindo à catástrofe. É precisamente por compreender este perigo da catástrofe da história que Benjamin reconhece ser um "pessimista revolucionário", recusando a resignação apática e fatalista. Este pessimismo, que tem de ser organizado, põe-se ao serviço da emancipação das classes oprimidas e o perigo que Benjamin adivinha e tenta a todo custo evitar são as ameaças do progresso técnico, que conferem à história uma falsa continuidade e, também, uma falsa esperança. O pessimismo benjaminiano consiste num olhar advertido contra todos os "falsos optimismos" da história, todos os optimismos que se inspiram na ilusão do progresso. Essa é a verdadeira catástrofe e o olhar benjaminiano um aguilhão, reclamando a acção política e a intervenção na história, em nome da reparação das injustiças. É neste olhar reparador que se concentra o essencial da sua visão melancólica e que é, em simultâneo, uma visão revolucionária da história."