15 de Janeiro de 2022 - 28 de Fevereiro de 2022.
Desde a minha infância que a presença do mar e a apetência para o uso das técnicas manuais tradicionais fazem parte do meu quotidiano. Cedo reconheci, sob a esteira da arte contemporânea e, em particular,
da Arte Povera, que a reutilização e reciclagem não são obstáculo à criação, pelo contrário,
permitem a enorme liberdade da transmutação.
O material que recolho nas praias, desgastado do uso na pesca e pela erosão no mar, constitui para mim uma evocação de tempo e do movimento. A narrativa plástica e simbólica das pinturas/esculturas desta exposição resulta da apropriação da energia latente que habita os materiais recolhidos e nos referentes pictóricos ao mar.
Como as ondas do mar, os meus gestos repetem-se nos nós, torções, volumes rítmicos, imersivos
numa “apresentação estética”, revestindo a obra de uma corporeidade, semelhante a um organismo vivo,
que confronta o público com fortes experiências percetivas e sensoriais.
No meu papel de construtora de imagens, que se podem “ver com as mãos” movo-me entre os binómios
– passado/presente, lixo/arte, e confronto o público com duas das problemáticas do nosso quotidiano –
o descartável e o virtual. “Respiro Todo o Mar Que Posso” confronta-nos com o inevitável “retorno” do lixo
que produzimos, mas, em simultâneo, apresenta-nos o “poder da arte” como solução.
Isabel Babo, 8 de Janeiro de 2022.
